Há
uns anos atrás, não muitos, os poucos ciclistas urbanos que
circulavam pelas ruas de Lisboa sentiam-se estranhos e mal-amados na
maioria das lojas de bicicletas. Simplesmente porque tinham a
sensação de estar a entrar num espaço onde o valor do seu veículo
só encontrava paralelo no preço das barras energéticas ou das
câmaras de ar, o que era no mínimo desprestigiante.
É
normal, senão inevitável, o ciclista que começa a andar pela
cidade tornar-se um militante da causa. Simplesmente porque é
difícil ignorar as dificuldades que se lhe colocam a cada pedalada
ou mesmo quando, já desmontado da bicicleta, procura estacionamento,
apesar de o mobiliário urbano, quando bem explorado, oferecer
soluções interessantes. O que não se esperava, à partida, é que
este visionário do velocípede fosse alvo de chacota nas lojas que
deviam existir para o servir.
À
falta de alternativas, e tal como para outros desafios que a cidade
exibe, o ciclista urbano aparenta ter desenvolvido uma defesa pessoal
com laivos de altivez para enfrentar o ambiente potencialmente hostil
que têm as lojas de bicicletas especializadas em vender material
desportivo da era espacial. É essa atitude que o reveste de uma
camada protectora contra a cavaqueira, a laracha e o desprezo de que
pode ser vítima num espaço tão afastado das suas necessidades, que
são básicas.
Consegue-se
vislumbrar essa altivez quando o ciclista, feito militante, se dirige
a quem o atende na loja dizendo: “mas, sabe, este é o meu meio de
transporte diário”. Este charuto? Poderá pensar o mecânico. Mas
a qualidade do material costuma importar-lhe na proporção inversa –
menos é mais, pior é melhor – e altivez serve um propósito,
senão vários.
O que
o militante altivo pretende transmitir com a sua frase-chave é a
ideia de que se vê forçado a abdicar de um elemento essencial à
vida como água, muito embora, mais do que se tratar de uma forma de
pressionar quem o atende a servi-lo depressa, o militante altivo quer
acima de tudo deixar claro que ele anda de bicicleta pela cidade e
que é de facto naquele chaço que se desloca para ir trabalhar. Isto
é militância altiva, a fazer campanha para que as lojas o sirvam
melhor, para que o ciclista urbano deixe de se sentir estranho num
espaço onde o grama é a unidade de medida oficial, para que lhe
vendam peças baratas e para que não tenha que substituir a roda por
uma nova sempre que se parte um raio.
Há
ciclistas que não dão uma pedalada sem ter a certeza de estar tudo
bem afinado e limpo e há quem marimbe tanto para tudo isso que
continua a pedalar para lá do razoável, desafiando a longevidade
dos materiais. Pelo meio há uma diversidade de graus e combinações
possíveis destes dois extremos – o da picuinhice e o do desleixo.
O militante altivo pode ser qualquer um desses ciclistas porque o que
o distingue é a forma como se relaciona com a bicicleta
independentemente do seu valor – é um objecto que vale mais pelo
que representa do que pelo que anda, desde que ande sempre.
O
militante é altivo porque nada é superior a isso. “Digam as
facécias que quiserem sobre mim e o meu veículo, o que eu quero é
tê-lo pronto amanhã sem falta porque, sabe...este é o meu meio de
transporte diário.”
3 comentários:
WATTMOVE em Aveiro. Com bicicletas e motas eléctricas. Tem bicicletas á disposição no Turismo.PEDALEM, PEDALEM MUITO!!
em nada altera o prazer de andar de bicicleta nem todas as sensações que podemos usufruir através deste fantástico meio de transporte. bicicleta
em nada altera o prazer de andar de bicicleta nem todas as sensações que podemos usufruir através deste fantástico meio de transporte. bicicleta
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