Texto originalmente publicado no Jornal Pedal nº 1, de Janeiro 2012. Para recordar, aqui com fotos ilustrativas, no dia em que sai o nº 5 e vai para o ar a segunda emissão do programa de rádio Pedal de Prata, em directo às 22h. Um jornal em expansão, de facto.
Quero
explicar-vos como se pode melhorar a performance da bicicleta
poupando dinheiro e contribuindo ao mesmo tempo para um planeta mais
limpo e fofinho, a começar pela nossa própria bicicleta. É uma
técnica win/win onde
nada nem ninguém sai a perder, excepto o nosso ego caso goste de
armar ao pingarelho. As baleias, se falassem, agradeceriam.
A
corrente de transmissão (vulgo, corrente da bicicleta) é a primeira
vítima do aspirante a mecânico mas também do ciclista incauto ou
até hipocondríaco com a “saúde” da sua bicicleta. Basicamente
é a cobaia perfeita para os nossos primeiros impulsos
experimentalistas. No momento em que decidimos fazer algo para
melhorar a performance da nossa bicicleta, sendo que isto acontece
normalmente quando nos fartamos de estar sempre e só a limpar e
puxar brilho à dita, optamos invariavelmente por despejar óleo na
corrente. Literalmente “despejar”, mesmo que seja em várias
ocasiões e não de uma só vez. Falo na primeira pessoa do plural
porque passamos todos por isso, nós os amantes da bricolage.
Faz parte! Além disso compreende-se a escolha, quase obsessiva, pela
corrente. Para alguém que deseja começar a mexer na bicicleta além
do paninho húmido e da cera para puxar o brilho, sistemas como os
travões e as mudanças são aparentemente demasiado complexos e o
bom senso recomenda a estarmos quietos, porque sabe que podemos
deixar as coisas pior do que estão.
Não querendo
correr esse risco, pensamos: o que posso então fazer? Corrente!
Lubrificar a corrente! Tal acção, note-se o entusiasmo nos pontos
de exclamação, deixa-nos satisfeitos. Tudo parece inofensivo e
convincente de que estamos a fazer bem à bicicleta. Bom, estaremos
antes de mais a fazer bem à indústria petroquímica consumindo
excessivamente os seus produtos, depois estaremos a ajudar a
indústria das bicicletas e por último, sim, a fazer bem à
bicicleta. Mas não à nossa.
Excesso de óleo
na corrente faz com que toda e qualquer poeira que paire no ar fique
lá colada. Muita poeira junta forma uma camada escura, negra,
pestilenta e muito desagradável. Quem diz poeira podia dizer pior:
grãos de areia, cabelos, todos os detritos que por aí andam e que,
juntos numa pasta que cobre a corrente e se acumula por onde ela
passa, só contribui para o seu desgaste. Basta pensar nos grãos de
areia a serem moídos entre a corrente e a roda dentada, grão a
grão...lá se vai a corrente.
Como mecânico,
são muitas as vezes que recebo bicicletas de clientes onde é
difícil distinguir os elos da corrente entre si, de tão cobertos
que estão por uma camada espessa de merda. Nesses casos, o que faço
é despejar uma boa quantidade de desengordurante e deixá-lo actuar
um pouco para depois começar a remover as camadas em excesso. É um
trabalho moroso e sujo, uma espécie de arqueologia da corrente.
Assim que nos livramos da sujidade e conseguimos ver a corrente tal
qual ela é, devemos perguntar-nos: será mesmo necessário voltar a
lubrificá-la? Nem sempre é necessário fazê-lo, uma vez que a
camada em excesso que se acumula à superfície protege o óleo que
envolve o interior dos elos. É uma decisão que deve ser ponderada
com algum cuidado e conhecimento de causa, mas para quem gosta mesmo
de pôr óleo na corrente à desgarrada, então, o procedimento a
seguir deve ser: 1) limpar a corrente o melhor possível; 2) colocar
óleo novo e; 3) sempre, mas sempre passar um pano para remover o
excesso. Caso contrário não tardará a salpicar de pintas pretas a
roda traseira, algo muito desagradável para quem gosta de ter a
bicicleta limpa, assim como a roupa.
Convém ainda limpar todos os
locais por onde a corrente passa – desviadores, pedaleira, roda
livre (ou fixa) – para ficarmos com o trabalho bem feito.
Acreditem, se querem perder tempo a tratar da vossa bicicleta, isto é
tarefa para vos deixar ocupados durante uma bela tarde de
fim-de-semana. Importantíssima informação a reter: limpem o
excesso de óleo sempre depois de o aplicar, é suposto a corrente
ter um aspecto “seco” e não empapado em óleo, caso contrário
não tardará a ficar outra vez como descrito acima.
Não
é recomendável pôr óleo novo em cima de óleo velho e sujo, eu
faço-o por preguiça apenas quando a corrente já chia por falta de
lubrificação, na minha bicicleta claro. É esse o sintoma ao qual
devem estar atentos. Se a corrente começar a chiar (algo que
dificilmente acontece a quem insiste afogá-la em óleo) está na
hora de limpar e lubrificá-la de novo, mas não confundam o chiar da
corrente propriamente dita com o ruído provocado pela fricção
desta com os desviadores, nesse caso é só sinal de que a mudança
está mal metida.
Mau exemplo... cortesia bez_uk
Bom exemplo... cortesia bostonbiker.org |
6 comentários:
E em relação a esporadicamente dar uma borrifada de WD40? É util?
O WD40 serve para evitar que certas peças enferrujem devido à humidade. WD = Water Displacement.
Embora impeça a corrente de enferrujar, não evita tão eficazmente o desgaste dos eixos/pinos dos elos da corrente, que contribui para o seu alongamento.
Óleo fino no tempo seco, um óleo mais viscoso no tempo húmido, aplicados como diz o Ricardo.
Por favor! Divulguem esse rápido questionário para avaliar o sistema de integração bicicleta-metrô de sp!
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dDBhd1hISlpSUUZHblZ0NlNVUEMyTnc6MQ
bah! essa eu não sabia! valeu!
Tudo o que sirva para ser amigo so ambiente, acho que é sempre uma boa medida.
Sermos mais conscientes não é uma opção, é uma obrigação.
Isso é algo que trabalhamos no Espaço Telheiras.
Continuação do bom blog.
Cumprimentos
Prabéns está muito bom!
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