segunda-feira, agosto 20, 2012

Militância Altiva

Texto originalmente publicado no Jornal Pedal nº 4, de Abril 2012. A edição de Agosto já está online e a circular pelas ruas. Esta quarta-feira vai para o ar mais uma emissão do Pedal de Prata, em directo às 22h.
 
Há uns anos atrás, não muitos, os poucos ciclistas urbanos que circulavam pelas ruas de Lisboa sentiam-se estranhos e mal-amados na maioria das lojas de bicicletas. Simplesmente porque tinham a sensação de estar a entrar num espaço onde o valor do seu veículo só encontrava paralelo no preço das barras energéticas ou das câmaras de ar, o que era no mínimo desprestigiante.

É normal, senão inevitável, o ciclista que começa a andar pela cidade tornar-se um militante da causa. Simplesmente porque é difícil ignorar as dificuldades que se lhe colocam a cada pedalada ou mesmo quando, já desmontado da bicicleta, procura estacionamento, apesar de o mobiliário urbano, quando bem explorado, oferecer soluções interessantes. O que não se esperava, à partida, é que este visionário do velocípede fosse alvo de chacota nas lojas que deviam existir para o servir.

À falta de alternativas, e tal como para outros desafios que a cidade exibe, o ciclista urbano aparenta ter desenvolvido uma defesa pessoal com laivos de altivez para enfrentar o ambiente potencialmente hostil que têm as lojas de bicicletas especializadas em vender material desportivo da era espacial. É essa atitude que o reveste de uma camada protectora contra a cavaqueira, a laracha e o desprezo de que pode ser vítima num espaço tão afastado das suas necessidades, que são básicas.

Consegue-se vislumbrar essa altivez quando o ciclista, feito militante, se dirige a quem o atende na loja dizendo: “mas, sabe, este é o meu meio de transporte diário”. Este charuto? Poderá pensar o mecânico. Mas a qualidade do material costuma importar-lhe na proporção inversa – menos é mais, pior é melhor – e altivez serve um propósito, senão vários.

O que o militante altivo pretende transmitir com a sua frase-chave é a ideia de que se vê forçado a abdicar de um elemento essencial à vida como água, muito embora, mais do que se tratar de uma forma de pressionar quem o atende a servi-lo depressa, o militante altivo quer acima de tudo deixar claro que ele anda de bicicleta pela cidade e que é de facto naquele chaço que se desloca para ir trabalhar. Isto é militância altiva, a fazer campanha para que as lojas o sirvam melhor, para que o ciclista urbano deixe de se sentir estranho num espaço onde o grama é a unidade de medida oficial, para que lhe vendam peças baratas e para que não tenha que substituir a roda por uma nova sempre que se parte um raio.

Há ciclistas que não dão uma pedalada sem ter a certeza de estar tudo bem afinado e limpo e há quem marimbe tanto para tudo isso que continua a pedalar para lá do razoável, desafiando a longevidade dos materiais. Pelo meio há uma diversidade de graus e combinações possíveis destes dois extremos – o da picuinhice e o do desleixo. O militante altivo pode ser qualquer um desses ciclistas porque o que o distingue é a forma como se relaciona com a bicicleta independentemente do seu valor – é um objecto que vale mais pelo que representa do que pelo que anda, desde que ande sempre.

O militante é altivo porque nada é superior a isso. “Digam as facécias que quiserem sobre mim e o meu veículo, o que eu quero é tê-lo pronto amanhã sem falta porque, sabe...este é o meu meio de transporte diário.”

3 comentários:

Anónimo disse...

WATTMOVE em Aveiro. Com bicicletas e motas eléctricas. Tem bicicletas á disposição no Turismo.PEDALEM, PEDALEM MUITO!!

jade disse...

em nada altera o prazer de andar de bicicleta nem todas as sensações que podemos usufruir através deste fantástico meio de transporte. bicicleta

jade disse...

em nada altera o prazer de andar de bicicleta nem todas as sensações que podemos usufruir através deste fantástico meio de transporte. bicicleta