quarta-feira, maio 23, 2012

Poupem no óleo da corrente e ajudem a salvar as baleias!

Texto originalmente publicado no Jornal Pedal nº 1, de Janeiro 2012. Para recordar, aqui com fotos ilustrativas, no dia em que sai o nº 5 e vai para o ar a segunda emissão do programa de rádio Pedal de Prata, em directo às 22h. Um jornal em expansão, de facto.

Quero explicar-vos como se pode melhorar a performance da bicicleta poupando dinheiro e contribuindo ao mesmo tempo para um planeta mais limpo e fofinho, a começar pela nossa própria bicicleta. É uma técnica win/win onde nada nem ninguém sai a perder, excepto o nosso ego caso goste de armar ao pingarelho. As baleias, se falassem, agradeceriam.

A corrente de transmissão (vulgo, corrente da bicicleta) é a primeira vítima do aspirante a mecânico mas também do ciclista incauto ou até hipocondríaco com a “saúde” da sua bicicleta. Basicamente é a cobaia perfeita para os nossos primeiros impulsos experimentalistas. No momento em que decidimos fazer algo para melhorar a performance da nossa bicicleta, sendo que isto acontece normalmente quando nos fartamos de estar sempre e só a limpar e puxar brilho à dita, optamos invariavelmente por despejar óleo na corrente. Literalmente “despejar”, mesmo que seja em várias ocasiões e não de uma só vez. Falo na primeira pessoa do plural porque passamos todos por isso, nós os amantes da bricolage. Faz parte! Além disso compreende-se a escolha, quase obsessiva, pela corrente. Para alguém que deseja começar a mexer na bicicleta além do paninho húmido e da cera para puxar o brilho, sistemas como os travões e as mudanças são aparentemente demasiado complexos e o bom senso recomenda a estarmos quietos, porque sabe que podemos deixar as coisas pior do que estão.

Não querendo correr esse risco, pensamos: o que posso então fazer? Corrente! Lubrificar a corrente! Tal acção, note-se o entusiasmo nos pontos de exclamação, deixa-nos satisfeitos. Tudo parece inofensivo e convincente de que estamos a fazer bem à bicicleta. Bom, estaremos antes de mais a fazer bem à indústria petroquímica consumindo excessivamente os seus produtos, depois estaremos a ajudar a indústria das bicicletas e por último, sim, a fazer bem à bicicleta. Mas não à nossa.

Excesso de óleo na corrente faz com que toda e qualquer poeira que paire no ar fique lá colada. Muita poeira junta forma uma camada escura, negra, pestilenta e muito desagradável. Quem diz poeira podia dizer pior: grãos de areia, cabelos, todos os detritos que por aí andam e que, juntos numa pasta que cobre a corrente e se acumula por onde ela passa, só contribui para o seu desgaste. Basta pensar nos grãos de areia a serem moídos entre a corrente e a roda dentada, grão a grão...lá se vai a corrente.

Como mecânico, são muitas as vezes que recebo bicicletas de clientes onde é difícil distinguir os elos da corrente entre si, de tão cobertos que estão por uma camada espessa de merda. Nesses casos, o que faço é despejar uma boa quantidade de desengordurante e deixá-lo actuar um pouco para depois começar a remover as camadas em excesso. É um trabalho moroso e sujo, uma espécie de arqueologia da corrente. Assim que nos livramos da sujidade e conseguimos ver a corrente tal qual ela é, devemos perguntar-nos: será mesmo necessário voltar a lubrificá-la? Nem sempre é necessário fazê-lo, uma vez que a camada em excesso que se acumula à superfície protege o óleo que envolve o interior dos elos. É uma decisão que deve ser ponderada com algum cuidado e conhecimento de causa, mas para quem gosta mesmo de pôr óleo na corrente à desgarrada, então, o procedimento a seguir deve ser: 1) limpar a corrente o melhor possível; 2) colocar óleo novo e; 3) sempre, mas sempre passar um pano para remover o excesso. Caso contrário não tardará a salpicar de pintas pretas a roda traseira, algo muito desagradável para quem gosta de ter a bicicleta limpa, assim como a roupa.

Convém ainda limpar todos os locais por onde a corrente passa – desviadores, pedaleira, roda livre (ou fixa) – para ficarmos com o trabalho bem feito. Acreditem, se querem perder tempo a tratar da vossa bicicleta, isto é tarefa para vos deixar ocupados durante uma bela tarde de fim-de-semana. Importantíssima informação a reter: limpem o excesso de óleo sempre depois de o aplicar, é suposto a corrente ter um aspecto “seco” e não empapado em óleo, caso contrário não tardará a ficar outra vez como descrito acima.

Não é recomendável pôr óleo novo em cima de óleo velho e sujo, eu faço-o por preguiça apenas quando a corrente já chia por falta de lubrificação, na minha bicicleta claro. É esse o sintoma ao qual devem estar atentos. Se a corrente começar a chiar (algo que dificilmente acontece a quem insiste afogá-la em óleo) está na hora de limpar e lubrificá-la de novo, mas não confundam o chiar da corrente propriamente dita com o ruído provocado pela fricção desta com os desviadores, nesse caso é só sinal de que a mudança está mal metida.

Mau exemplo... cortesia bez_uk
Bom exemplo... cortesia bostonbiker.org
Very Dirty Bike Chain

6 comentários:

JP disse...

E em relação a esporadicamente dar uma borrifada de WD40? É util?

Bruno disse...

O WD40 serve para evitar que certas peças enferrujem devido à humidade. WD = Water Displacement.

Embora impeça a corrente de enferrujar, não evita tão eficazmente o desgaste dos eixos/pinos dos elos da corrente, que contribui para o seu alongamento.

Óleo fino no tempo seco, um óleo mais viscoso no tempo húmido, aplicados como diz o Ricardo.

Anónimo disse...

Por favor! Divulguem esse rápido questionário para avaliar o sistema de integração bicicleta-metrô de sp!
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dDBhd1hISlpSUUZHblZ0NlNVUEMyTnc6MQ

Janaísa disse...

bah! essa eu não sabia! valeu!

Espaço Telheiras disse...

Tudo o que sirva para ser amigo so ambiente, acho que é sempre uma boa medida.

Sermos mais conscientes não é uma opção, é uma obrigação.

Isso é algo que trabalhamos no Espaço Telheiras.

Continuação do bom blog.

Cumprimentos

Bicicletas espetaculares disse...

Prabéns está muito bom!