quinta-feira, junho 12, 2008

Como sobreviver ao preço dos combustíveis ou à "seca" das bombas de gasolina - um possível guia prático

(foto retirada daqui)

A greve dos camionistas que bloqueou no últimos dias toda a cadeia de distribuição de alimentos e combustíveis em Portugal e não só, além de provocar os distúrbios "normais" decorrentes dessa mesma situação, veio demonstrar a nossa fragilidade e dependência quer dessas cadeias de distribuição (a logística) quer dos combustíveis que as fazem funcionar. Pior do que isso, só mesmo a dependência daqueles que precisam de usar os combustíveis que essas redes de distribuição levam até às gasolineiras. Ou talvez não. Tirando um par de aviões da TAP, meia dúzia de empresas de estafetagem e uma dezena de motas da Telepizza, a grande maioria dos que "dependem", de facto e não só entre aspas, de gasolina ou gasóleo no dia-a-dia parece ter sido agora apanhada de surpresa. Aos mais distraídos, as boas-vindas! Bem-vindos ao mundo da verdade inconveniente, ao fim do subúrbio como o conhecemos ou, numa frase, sejam extremamente bem-vindos à realidade que algumas pessoas vinham apregoando de há alguns anos a esta parte e quase nunca foram levadas a sério.

Não é meu hábito escrever sobre o uso desmesurado do automóvel nem fazer lobbying por "menos um carro". Eu situo-me antes no lobby por "mais uma bicicleta" o que tem muito em comum com o primeiro, além de que esta minha preferência não significa que não concorde, no essencial, com tudo o que se escreve a denunciar e a sugerir alternativas à mono-modalidade automóvel que tanto se promoveu nas últimas décadas e da qual ainda sobraram alguns resquícios que ficaram por terminar (estou a pensar no novo centro comercial Dolce Vita Tejo na Amadora, com 9 mil lugares de estacionamento automóvel). Em todo o caso, os blogues Menos um Carro e Apocalipse Motorizado são talvez as maiores referências lusófonas em matéria car-free ou "anti-carro", ou ainda "pró-cidades para as pessoas" ou "menos poluição e melhor ambiente", não sei ao certo, sei apenas que ambos falam muito mais de bicicletas nas cidades do que o Bicicleta na Cidade fala de menos carros a circular, daí não me sentir muito à vontade para definir esse outro universo que não é o meu.

Mas a força com que os factos nos vieram bater à porta desta vez (note-se que a vitória da selecção portuguesa sobre a República Checa só foi notícia na segunda parte do Telejornal da RTP) impede-me de ocultar por muito mais tempo a dura realidade da petroleodependência nas nossas vidas enquanto escrevo alegremente sobre como andar de bicicleta na cidade, com flores e tudo...

O panorama é este: aumentam as vendas de bicicletas nos EUA (nos EUA!), discute-se a criação de uma rede de bicicletas de uso partilhado em Lisboa (em Lisboa!!) e não há legumes frescos no supermercado. Será que a culpa deve ser imputada aos impostos sobre os produtos petrolíferos cobrados pelo Estado? Ou aos especuladores? Já se sabe que a culpa vai morrer solteira, mas se ela tivesse efeitos retroactivos eu gostava de poder culpar todos aqueles que usaram a gasolina quando era barata só porque era barata, é graças a esses que hoje nos queixamos dos impostos. Ou então culpar o Estado por não ter cobrado nessa época impostos mais elevados de forma a reduzir o impacte da pilhagem aos subsolos do médio oriente, entre outros; é graças ao(s) Estado(s) dessa Europa que hoje nos queixamos do preço dos combustíveis.

Seja como for, a bicicleta é um meio de transporte eficaz para uma série de deslocações quotidianas e possui também alguma capacidade de carga, como se pode ver na imagem acima. Para andar de bicicleta não é preciso haver ciclovias nem vias cicláveis nem estacionamento próprio para bicicletas. Embora tudo isso ajude, também não são precisas auto-estradas para se andar de carro, nem parques de estacionamento gigantes (sobretudo em Lisboa, uma vez que se permite usar indiscriminadamente os passeios para tal).

O Bicicleta na Cidade promove, como disse, "mais uma bicicleta" e não "mais uma via ciclável". Nesse sentido, toda a informação útil aqui disponibilizada serve para ajudar todos aqueles que se querem iniciar nas duas rodas em Lisboa e têm dúvidas sobre como fazê-lo. É por isso que a informação está vocacionada para as características desta cidade, porque é possível usá-la aqui desde que se saiba como. Aprender a lidar com o tráfego motorizado é um desafio facilmente ultrapassável com a prática, a experiência e a perseverança necessárias. De resto, e para quem estiver interessado, há um novo serviço prestes a surgir na cidade - Cursos de Condução de Bicicleta pela Cenas a Pedal.


3 comentários:

António C. disse...

Olá Ricardo!

"esse outro universo que não é o teu"? 'menos um carro' ou 'mais uma bicicleta' não são definitivamente iguais mas também não são coisas de universos diferentes.

Ambos são "pelas cidades, pelo ambiente, pelas pessoas"...

Como colaborador do menos1carro agradeço a referência, e parabéns pelo post. Está muito bom!

Miguel Carvalho disse...

Excelente foto! Um dias deste roubo-a.

E faço minhas as palavras do António.

Já agora, para quando a tua apresentação no ISCTE aqui no blog?

Ricardo Sobral disse...

Olá vizinhos do Menos 1 Carro! ;)
De facto, não é o universo que é diferente e partilhamos uma série de objectivos, senão todos mesmo.
A forma como eu o vejo aqui no Bicicleta na Cidade tem mais a ver com uma necessidade minha de me focar numa questão (a bicicleta), de entre as várias que se ligam a esse universo. É uma opção editorial, nada mais, e não assume contornos ideológicos!

A foto podem usar à vontade porque também não é minha.

Quanto à apresentação no ISCTE, está a caminho do blogue...

Abraço!

Ricardo