O professor Marcelo Rebelo de Sousa, no seu programa de ontem, comentou a participação do candidato do PS à Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, no passeio "Lisboa antiga de Bicicleta", organizado pela Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta - FPCUB - no dia 3 de Junho. Perante as declarações, decidi escrever-lhe a carta que aqui transcrevo na íntegra.
Caro professor Marcelo Rebelo de Sousa,
não pude deixar de me indignar com um dos comentários que proferiu nas notas curtas do seu último programa, no dia 10 de Junho. Citando-o: "Se há cidade onde não faz sentido defender a bicicleta com as sete colinas é Lisboa. (...) Andar de bicicleta em Lisboa, teoricamente é impossível (...)".
Admito que a maioria dos lisboetas, e até dos portugueses, reconhecem-se nas palavras do professor. Porém, como utilizador diário da bicicleta que sou na cidade das "sete colinas", gostaria de lhe deixar algumas notas.
1) Existe uma "comunidade" de ciclistas em Lisboa que, hoje mesmo, circula diariamente por várias zonas da cidade. Digo comunidade porque tem consciência de si própria (pela sua diferença e "exotismo" face aos demais meios de transporte habituais na cidade) e porque participa em campanhas, passeios e outras acções em defesa de uma Lisboa mais amiga da bicicleta.
2) O número de utilizadores de bicicleta em Lisboa tem aumentado de ano para ano. Não havendo dados estatísticos que dêem conta dessa realidade, esta afirmação baseia-se na mera observação da realidade envolvente. Reconheço as limitações deste método mas, à falta de melhor, também não se podem negar as evidências. Perante este crescendo, a questão da possibilidade ou não do uso da bicicleta em Lisboa fica, parece-me, sem efeito.
3) As campanhas, passeios e acções que têm lugar em Lisboa em defesa da utilização da bicicleta não se opõem, regra geral, a nenhum outro meio de transporte, pelo contrário, defendem a inter-modalidade. Haverá quem não tenha dificuldades em subir as (míticas) "colinas" de Lisboa e circule para todo o lado de bicicleta. Porém, o sistema de transportes de Lisboa deverá igualmente contemplar aqueles que optem por outro meio de transporte em determinados trajectos.
O que podemos apreender é o seguinte: a escolha do meio de transporte e do trajecto são decisões exclusivamente pessoais e variam consoante as pessoas (idade, sexo, preparação física, etc.) e as zonas da cidade (uma vez que nem toda a cidade são colinas; por exemplo, do Saldanha até Telheiras, Pontinha, Lumiar ou Campolide a cidade é sobretudo plana).
4) Perante o acima exposto, parece-me incorrecto pôr em causa o esforço de uma comunidade, que luta por melhor mobilidade e ambiente na cidade ou que simplesmente circula de bicicleta, ao desvalorizar a campanha de um candidato às eleições para a Câmara Municipal de Lisboa. É importante ter em conta que nem todos os ciclistas em Lisboa são socialistas nem votarão no candidato António Costa, mas ao referir-se à opção deste candidato de incentivar o uso de bicicletas em Lisboa, usando expressões como "não faz sentido" ou "teoricamente impossível", o professor, como "opinion-maker", retirou força não só ao candidato mas, sobretudo, a um grupo de pessoas já de si marginalizadas.
5) Ainda que lhe pareça "teoricamente impossível" andar de bicicleta em Lisboa, existem pessoas que diariamente põem essa ideia em prática. Como tal, sugiro que procure informar-se melhor sobre o assunto, deixando-lhe algumas sugestões de pesquisa: http://www.fpcub.pt ; http://www.massacriticapt.net/ ; http://bicicletanacidade.blogspot.com/
6) Caso mantenha a sua opinião após consultar estes sites, gostaria que no seu próximo programa fizesse uma ressalva: andar de bicicleta em Lisboa é uma realidade que, apesar de frágil e em processo de afirmação, não deve ser posta em causa nem confundida com qualquer campanha ou programa político que decida apoiá-la. São realidades diferentes, tal como o tráfego de aviões e a defesa da manutenção do aeroporto da Portela o são.
Agradeço antecipadamente a sua atenção.
Melhores cumprimentos,
Ricardo Sobral
Caro professor Marcelo Rebelo de Sousa,
não pude deixar de me indignar com um dos comentários que proferiu nas notas curtas do seu último programa, no dia 10 de Junho. Citando-o: "Se há cidade onde não faz sentido defender a bicicleta com as sete colinas é Lisboa. (...) Andar de bicicleta em Lisboa, teoricamente é impossível (...)".
Admito que a maioria dos lisboetas, e até dos portugueses, reconhecem-se nas palavras do professor. Porém, como utilizador diário da bicicleta que sou na cidade das "sete colinas", gostaria de lhe deixar algumas notas.
1) Existe uma "comunidade" de ciclistas em Lisboa que, hoje mesmo, circula diariamente por várias zonas da cidade. Digo comunidade porque tem consciência de si própria (pela sua diferença e "exotismo" face aos demais meios de transporte habituais na cidade) e porque participa em campanhas, passeios e outras acções em defesa de uma Lisboa mais amiga da bicicleta.
2) O número de utilizadores de bicicleta em Lisboa tem aumentado de ano para ano. Não havendo dados estatísticos que dêem conta dessa realidade, esta afirmação baseia-se na mera observação da realidade envolvente. Reconheço as limitações deste método mas, à falta de melhor, também não se podem negar as evidências. Perante este crescendo, a questão da possibilidade ou não do uso da bicicleta em Lisboa fica, parece-me, sem efeito.
3) As campanhas, passeios e acções que têm lugar em Lisboa em defesa da utilização da bicicleta não se opõem, regra geral, a nenhum outro meio de transporte, pelo contrário, defendem a inter-modalidade. Haverá quem não tenha dificuldades em subir as (míticas) "colinas" de Lisboa e circule para todo o lado de bicicleta. Porém, o sistema de transportes de Lisboa deverá igualmente contemplar aqueles que optem por outro meio de transporte em determinados trajectos.
O que podemos apreender é o seguinte: a escolha do meio de transporte e do trajecto são decisões exclusivamente pessoais e variam consoante as pessoas (idade, sexo, preparação física, etc.) e as zonas da cidade (uma vez que nem toda a cidade são colinas; por exemplo, do Saldanha até Telheiras, Pontinha, Lumiar ou Campolide a cidade é sobretudo plana).
4) Perante o acima exposto, parece-me incorrecto pôr em causa o esforço de uma comunidade, que luta por melhor mobilidade e ambiente na cidade ou que simplesmente circula de bicicleta, ao desvalorizar a campanha de um candidato às eleições para a Câmara Municipal de Lisboa. É importante ter em conta que nem todos os ciclistas em Lisboa são socialistas nem votarão no candidato António Costa, mas ao referir-se à opção deste candidato de incentivar o uso de bicicletas em Lisboa, usando expressões como "não faz sentido" ou "teoricamente impossível", o professor, como "opinion-maker", retirou força não só ao candidato mas, sobretudo, a um grupo de pessoas já de si marginalizadas.
5) Ainda que lhe pareça "teoricamente impossível" andar de bicicleta em Lisboa, existem pessoas que diariamente põem essa ideia em prática. Como tal, sugiro que procure informar-se melhor sobre o assunto, deixando-lhe algumas sugestões de pesquisa: http://www.fpcub.pt ; http://www.massacriticapt.net/ ; http://bicicletanacidade
6) Caso mantenha a sua opinião após consultar estes sites, gostaria que no seu próximo programa fizesse uma ressalva: andar de bicicleta em Lisboa é uma realidade que, apesar de frágil e em processo de afirmação, não deve ser posta em causa nem confundida com qualquer campanha ou programa político que decida apoiá-la. São realidades diferentes, tal como o tráfego de aviões e a defesa da manutenção do aeroporto da Portela o são.
Agradeço antecipadamente a sua atenção.
Melhores cumprimentos,
Ricardo Sobral
9 comentários:
Também ouvi esses comentário e achei muito mal.
Aproveito todos os fins-de-semana e feriados para ir dar uma volta de bicicleta com a familia. São momentos muito agradáveis mas muito limitados em termos de percursos devido a ideias como essa do Professor Marcelo.
Infelizmente, por razões de saúde, não posso andar de bicicleta, mas adoraria fazê-lo.Não percebo porque em Lisboa não se pode andar de bicicleta!O que me parece é que o Prof. não aprecia nem a modalidade nem o candidato.
Só uma emenda: Campolide é tudo menos a direito. Talvez queiras falar de Carnide. Ou de Campo de Ourique. Agora Campolide, que fica no alto de uma valente subida para depois descer a pique outra vez é que não. Se estiver errada, até porque estas subidas e descidas são minimizadas pelas quatro rodas do meu bólide, as minhas desculpas.
Confesso que na altura queria dizer Campo de Ourique.
Ainda assim existem acessos a Campolide que não implicam subir tanto, como pela Av. José Malhoa, Av. Calouste Gulbenkian (até certo ponto), Av. Columbano Bordalo Pinheiro e até mesmo a Rua de Campolide (até certo ponto), dependendo para onde se quer ir. Eu, por exemplo, escolho um trajecto diferente para ir e outro para voltar, de forma a subir menos e, se possível, descer mais!
Essa é uma prática corrente entre os utilizadores de bicicleta em Lisboa: escolher percursos diferentes para ir e voltar, no caso de haver declives. Alguns podem ser consultados em www.bikely.com/listpaths/country/198
Parece que o prof Marcelo Rebelo de Sousa não deu grande atenção (ou melhor dizendo.. nenhuma atenção) às chamadas de atenção que recebeu. A resposta dele no último programa foi algo do gênero:
"Existiram algumas pessoas que me chamaram à atenção sobre os comentários que fiz em relação a andar de bicicleta em Lisboa, mas eu quero vê-los a andar de bicicleta todos os dias à chuva e ir do Cais Sodré às Avenidas Novas!"
Pode não ter sido exactamente assim mas é o que me lembro. De qualquer forma acho que ainda ficou pior visto do que antes! Nem se deu ao trabalho de se informar um pouco. Deve ser como faz com os livros (Acham mesmo que ele lê aquilo tudo?..).
Conheço algumas pessoas que andam todos os dias de bicicleta em LX quer faça sol quer faça chuva. A chuva não tem nada a ver. E de mota ainda mais pessoas andam também ao sol e à chuva. Tanto nas motas como nas bicicletas usam-se fatos impermeáveis e digo que ambos os transportes são dos melhores que se pode usar numa cidade como Lisboa!
Alguem já pensou que o Professor pode até nem saber andar de bicicleta, se fôr esse o caso e alguem conseguir dar-lhe o recádo deixo desde já a garantia de que posso começar por ensiná-lo a troco de uma opinião diferente sobre a bicicleta.
Obrigado.
Rui luis Pratas
www.pedalnature.com
Parabéns pela carta ao prof.marc(T)elo.
É que alem de se achar o "melhor da cantadeira" se não for retorquido sentir-se-a sempre o paradigma da verdade absoluta...e da certeza certa!!!!!deviam aconselhar-lhe a leitura de livros tipo como reparar bicicletas com peças genuinas!!!!!um abraço!
Parabéns pelo blog e também pela carta. Eu não ouvi o programa, mas pelo que pode ler aqui concordo plenamente com a carta que foi enviada, e se o professor não a leu com atenção é porque quer continuar mal informado. Lisboa cidade das 7 colinas, não é bem assim... Até porque olhando para a carta de declives de Lisboa, conseguem-se muito bem perceber as 7 colinas mas também se percebe que a maior parte de lisboa se encontra num planalto. E hoje em dia é plenamente aceite que o futuro da mobilidade tem a ver com a interacção dos diversos meios de transporte, e que pode muito bem fazer-se parte de um percuso num qualquer outro meio de tranporte e depois pode continuar-se de bicicleta Quando à questão da chuva nem vale a pena comentarios. Penso que esse comentário feito pelo professor foi um pouco feito de forma leviana, porém é por causa desse tipo de mentalidade que as pessoas não se arriscam mais a experimentar a bicicleta como meio de transporte e não apenas de diversão ou desporto.
Parabéns!!! É por estas e por outras que eu não ouço este senhor. O professor que se atire ao Tejo, mas que desta vez não volte.
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